OOP EXPERIENCES

20090505

análises | o filme

O alarme toca às 08:00. 

_O quê? Já??? Parece que ainda agora fechei os olhos para adormecer e...

De súbito, o coração dispara-me com força. Imediatamente me apercebo que o alarme está a tocar para que eu me levante e me prepare para ir ser mutilado no laboratório de análises clínicas. Irão chacinar a minha carne e roubar-me o meu líquido precioso. Tudo com a ajuda de uma... de uma... (engulo em seco)... de uma AGULHA!!! Nãaaaaaaaao! Eu não quero. Eu prometo que me porto bem. Eu prometo que nunca mais digo palavrões como caralho, foda, pintxa e conas. Mas não me obriguem a ir fazer análises.

Viro-me para o outro lado na esperança que tudo não passe de mais um sintoma da minha loucura cavalgante. E...

zzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzz

Dormi mais um bocadinho. Sei que sonhei mas já não me recordo com quê. Estava relaxadinho, sabendo que ainda era dia de não ir para o trabalho e tão bem que ficaria na caminha. Porém, como todas as alegrias de pobre, a minha também durou pouco. Quinze minutos depois estava o alarme a tocar novamente e, como um navio que afundou e agora bate no fundo do mar com um baque estrondoso, porém contido, voltei a ter consciência do que me esperava. 

_Snif - quase chorei eu. Levantei-me preguiçoso e cheio de medo. 

Eu odeio manhãs, isso não é segredo para ninguém. Imaginem-me a passar por uma manhã em que tenho de sair da cama cedinho para ir fazer análises ao sangue. Mãezinha... Nãããããããããããão!!! 

Tratei da minha higiene pessoal, fiz o primeiro xixi da manhã para dentro de um tubinho estreito. 

Quer-se-dizer... Logo pela manhã, pedrado ainda de sono, e a tremer de nervos, estavam mesmo à espera que eu mijasse direitinho para dentro daquele tubinho? O pessoal nos laboratórios clínicos, reparei eu, dão tubinhos diferentes aos homens dos que dão às mulheres. Compreendo a necessidade da mulher ter um frasquino mais larguinho. Sim, faz todo o sentido. Mas porra... O pessoal dos laboratórios nunca ouviu falar numa coisinha levianamente chamada de Tusa do Mijo (tuzis mijus)??? Como é que um gajo logo pela manhã consegue atinar em fazer a sua mijinha para dentro de um tubinho de ensaio que é quase tão estreito quanto a sua uretra e way thiner que a sua pila?

Vesti-me, sempre chorando por dentro. Havia um dilúvio dentro de mim. Era matá-los a todos, esses sanguinários!!!

Meti-me no carro e fui para o laboratório. Chego e tiro a senha número 37, com indicação que tenho seis pessoas à minha frente para serem atendidas primeiro. 

_Foda-se!!! (sim, eu posso dizer palavrões. só não os diria se me tivessem poupado às análises) Seis pessoas? Isso é tempo mais que suficiente para me dar o badagaio só de imaginar antecipadamente os horrores que terão lugar lá dentro.

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Devagarinho ela chegou: a dor de cabeça típica de quem está doidinho para se desenfiar e escapar ao seu carrasco. Ficou ali, a zombar de mim. Depois trouxe uma amiga que eu já conheço de ginjeira: a visão afunilada. Porra... as duas juntas são do mais doidinho que eu conheço. Por incrível que pareça, a minha audição não ficou alterada. Ou pelo menos não no sentido de ter começado a ouvir tudo ao longe. Pelo contrário, parece que ouvia tudo mesmo ali a uns centímetros dos meus ouvidos. 

Primeiro ouvi os passos dos carcarás sanguinolentos, de um lado para o outro. Depois o som das portas a abrir, a fechar... Os instrumentos de metal a bater nas superfícies metálicas das mesas. Por fim, foi o golpe da misericórdia: as motosserras...  os gritos... os suplícios das vítimas... as gargalhadas triunfantes dos sanguinários.

Foi horrível. Quando chamaram o meu nome desatei num pranto que fazia lembrar os exageros fúnebros dos tempos em que se contratavam as mulheres de pranto (para dar "aquele" ambiente). Aos berros só sabia dizer que não. Que não queria. Que não tinha sido eu. Que já estava tudo assim quando eu cheguei.

A sanguinária aproxima-se e eu afasto-me. Vou recuando. E ela avançando para mim. Os seus olhos negros, fundos, grandes.  O seu rosto sem expressão e cheio de rugas (És feia com'um bode!!! - pensei eu). A sua bata tingida de sangue humano, um cutelo na mão direita e uma corrente na mão esquerda. Quando dou por mim, estou encurralado a um canto, não há por onde fugir. Uma multidão de pessoas loucas vestidas apenas com uma folha de bananeira ria desvairadamente ao meu redor como aconteceu no filme do Antero de Quental no corredor dos claustros do Convento da Esperança (no filme eles não estavam vestidos com folha de bananeira, por respeito ao banana do realizador).

A próxima coisa que me recordo é de estar de volta no meu carro, com um penso rápido no braço e um estranho objecto de metal onde se lia, cravado: "Recordação do Inferno".

2 comments:

Paulo Afonso said...

Hilariante.... eh eh eh... Lingrinhas, e depois vem dizer a frente que se portou que nem um homem de 1.80m.

Mari said...

carpideiras...
as mulheres pagas para chorarem, maricas...