20121023
20121021
20121018
| imprevisões minúsculas e brilhantes
Andava soberba, com a mania de que ia pra Marte. Os outros, aborrecidíssimos, fizeram-lhe a vontade; colaram-lhe umas chapas de metal resistente com adesivo à volta e atiraram-na pra Marte.
Curiosity encontrou um pequeno objecto brilhante na superfície e foi investigar.
- Ah que coisa tã estranha! estranhou ela, com a mãozinha na anca
- Mas tu queres ver? indagou, curiosa
Tirou umas fotos para publicar no facebook e não tardou a receber lentilhas de likes. Do outro lado, estão todos descansados da vida porque concluíram tratar-se apenas de um pedaço de aquecedor resistente, colado na sonda com adesivo e que ter-se-ia desprendido na aterragem. O alívio é que o que se desprendeu não afectará em nada o funcionamento da sonda.
Já viram a sorte? Se, porventura, tivessem colado à sonda alguma coisa importante? A bronca que não ia ser... Por outro lado, não sendo nada de importante, fico a matutar na razão para que tenha sido colado com adesivo numa sonda que ia para Marte. Modernices, só pode.
20121017
| demências, e outras canções
Há um rego que separa a nádega que não percebe patavina dos que a tatu cantam em russo, da que ouve já não posso mais já não posso mais e ele está a dar e ele está a dar.
20121012
| continuum
A mutação que em mim reside é feita de fuck it moments, fotógrafos do instante em esquadros de luz à retaguarda - e à medida que cai, em câmara lenta, despede-se da alma que a segura; a enérgica tromba de água escorre em câmara fria.
20121010
| to face or not to book [the epiphany]
Na verdade, eu tenho facebook.
[pequena pausa para desmaios e outros afrontamentos]
Faço, no entanto, um uso muito restrito do perfil porque ele existe para cumprir o propósito específico de um projecto eyes only.
Pelo que me apercebo, sem querer generalizar, as pessoas passam o tempo a "gostar" das cenas uns dos outros sem a elas adicionar muito de novo. Pergunto-me quantas vezes este "gostar" significará um admitir que não se tinha nada a dizer mas que pronto... fiz-te um like, o que já não e nada mau!?
Tenho a sensação que que o que se faz por lá é partilhar algo que foi criado por outros: uma imagem, um dizer, um cartaz > share; quando se partilha por todos, fica-se quase sempre sem nada - é elementar.
Cansam-me os perfis onde encontro repetidos dejá-vus. É o canibalismo das ideias.
Positivamente, é possível ao autor do perfil criar algo de seu e partilhar apenas o que quer e com quem quer. A selecção, porém, pode resultar em ofensas de sensibilidade da parte dos que ficam com os pedidos recusados, ou que se vêm sem saber o que responder quando lhe perguntam não viste isso no facebook dele?.
A obrigação de aceitar determinados pedidos de amizade, porque ficaria muito mal não o fazer é por si só a maior das razões pelas quais, para todos os efeitos, eu não tenho facebook.
Prefiro o espaço do blogger para me interligar com os meus.
O blog é pessoal e intimista and i Like it that way.
| to face or not to book [intro]
Hoje no trabalho, duas colegas tagarelavam acerca do aniversário de uma delas e de como tinha sido muito engraçado. A descrição do evento suscitou-me a curiosidade e prestei atenção.
Notando o meu interesse, a aniversariante pergunta-me:
- Não viste as fotos no facebook?
A outra responde de imediato, em alta voz:
- Ele não tem facebook.
A aniversariante, ainda mais alto:
- Tu não tens faceboooook?
De súbito, senti-me carregado com o olhar de todos os presentes a voltarem-se para mim, e no rosto expressões que esvoaçavam entre o gozo e a incredulidade.
20121007
| iMouraria
Ontem fomos à Mouraria, que diz que tá na moda.
Vimos a inaugurção do "Kitsch Kit Garden"*, de Joana Vasconcelos, estivemos juntos às câmara de tv a ver se, por ventura, o nosso talento seria finalmente reconhecido e, como se nada acontecesse, "formos" para a baixa.
Regressados ao Martim Moniz, fomos à Rua da Palma jantar ao japonês; depois fomos ver a Mariza actuar ao vivo para uma multidão decidida a fazer fila nas tascas à espera de ser servida.
Enquanto esperava, roubei um limão, e a culpa é da troika.
* fotos disponíveis aqui.
20121005
| wake up call
Em tempos de guerra, no passado, os territórios que içavam a sua bandeira de pernas para o ar queriam com isto fazer saber aos seus aliados que o país estava tomado pelo inimigo.
Nada mais apropriado, portanto, para as celebrações da República Portuguesa neste seu ano horribilis, do que fazer o mesmo, e pelas mãos do mais alto representante da nação.
Tendo em conta o simbolismo de uma bandeira içada ao contrário, espanta-me que ninguém tenha tido a decência de rectificar a falha senão por respeito aos súbditos de uma nação, pelo menos por respeito a um dos mais elevados símbolos da soberania do seu povo.
Ditou o protocolo que, para evitar um maior embaraço com a rectificação, a bandeira permanecesse de pernas para o ar. Faltou, a meu ver, que o hino fosse tocado de trás para a frente, numa versão demoníaca que tão bem corresponderia ao actual estado da nação.
Ao permitir a exibição da nossa bandeira ao contrário, o Presidente da República vestiu a pele de um comandante que abandona o seu navio quando ele começa a afundar - e deixou ao infortúnio de cada um de nós a implacável individualidade da má sorte.
Poderão os mais esperançados julgar que tudo se trata de uma engenhosa artimanha para pedir socorro aos nossos aliados sem que a troika suspeite e que, não tarda nada, chegarão exércitos de todo o mundo ajudar-nos a defender o que que é nosso.
Seja como for, a verdade é apenas uma: o futuro já não é que era.
E estaremos todos eternamente adormecidos se continuarmos a permitir sermos representados e governados por crápulas e ditadores que nos sugam a identidade e nos empurram para o abismo da perda irrefutável de história, de passado e de futuro.
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