Vestia-me para ir trabalhar quando a campainha da porta soou pela casa; coisa rara.
Faltava-me calçar, pelo que fui de meias até à porta [as minhas meias são, na verdade, veículos de emergência]. Ao abrir, dou com o sobrinho da vizinha do rés do chão de braço estendido com uma caneca de loiça na mão. Pedia um pouco de detergente, uma vez que a sua tia só poderia ir às compras no fim da tarde, mas estava com uma máquina de roupa por fazer - e era urgente.
Disse-lhe para entrar, que se pusesse à vontade; e ri de mim pra mim, malvadamente.
Peguei na caneca, fui para a marquise; enquanto vertia o detergente concentrado para uma caneca de loiça, imaginei a infinita tarefa de lavar a caneca depois de usada até que toda a espuma saísse - e ri, malvadamente.
Entreguei-lhe a caneca, mirei-lhe o pedaço de peito visível por trás da camisa com o primeiro botão aberto. Distraí-me com os seus pedidos de desculpa pelo incómodo e, quando voltei a concentrar-me, dei com os seus pés descalços na pantufa azul escura. E ri, malvadamente, ia já ele escadas abaixo.
Dias depois era sábado e a campainha de casa deu sinal. À porta, a presumível mãe do sobrinho da vizinha; trazia um saco que me entregou a uma velocidade supersónica, dizendo que eram uns bolinhos para eu tomar com o chá. Estendeu-me de seguida a mesma caneca da outra vez, cheia de detergente líquido concentrado, para pagar a dívida.
Disse-lhe que entrasse e que se sentisse à vontade, fui levar à cozinha o saco dos bolinhos e verter o detergente para um frasco e poder devolver a caneca. Depois de vazia, achei delicado passar a dita por água. Ri, malvadamente, durante longos minutos até sair toda a espuma da caneca, enquanto olhava para os bolinhos.
Apenas alguns sobrevivem.
2 comments:
cagou-te o cão no caminho e tu riste-te malvadamente!
right on, bitch!
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