O meu corta-unhas é extremamente eficaz. Talvez eficaz em demasia. Profundas e afiadíssimas, as suas lâminas de corte provocam quase invariavelmente ruturas de vasos sanguíneos à volta da zona de intervenção.
Inevitavelmente, ganhei uma certa inquietação espontânea a cada vez que sinto necessidade seja de cortar uma unha ou de simplesmente cortar um ou outro pedacinho de pele que precise de atenção.
Sempre que penso no potencial de corte do instrumento, sobem-me uns calores pelas pernas acima e, logo depois, descem-me uns frios pelas costas baixo.
Muitas vezes, os nervos são tantos que acabo por me fazer valer dos dentes e, sem surpresa, dou cabo da ponta dos dedos porque, como é sabido, os dentes não conseguem fazer uma manicure minimamente decente.
Hoje, ao cortar uma pele que se soltava junto à unha do polegar, acabei por cortar um pouquinho de carne juntamente com o canto da unha que agora, quando crescer, tenderá a encravar-se - e já lhe sinto as dores.
Porém, e após longos meses de tortura, hoje tive por fim o meu momento iluminado e acho que consegui chegar a uma solução bastante promissora: deitar o corta-unhas no lixo e comprar outro.
Uma vida...