Pelos reflexos no vidro da janela, torna-se óbvio que há alguém que experimenta roupa, peça a peça. Os elos mais fracos caem sobre a cama, rejeitados, e a silhueta - novamente reflectida no vidro - movimenta-se em recortes de vaidade... tentativa e erro.
A lua está a meias, em eterno poiso na noite que vai caindo. É sábado e há um vento fresco que acalma as temperaturas mais quentes do fim de tarde.
O estore da janela desce até metade quase como se tivesse vida própria e, dentro do quarto, os elos rejeitados, fracos, erros por corrigir, são guardados metodicamente em gavetas e armários.
Ela dobra-se para chegar mais baixo. O cabelo longo e ondulado pende.
A luz apaga-se.
Ela surge na divisão ao lado com um vestido verde que lhe cinta acima da anca para cair redondo e folhado até aos joelhos. As pernas nuas transitam entre um e outro metro quadrado de sua casa.
Senta-se. Em sua frente, um computador move as suas vontades por alguns segundos.
Levanta-se.
Ele surge. Veste uns boxers vermelhos com pintinhas brancas. Mais nada. Braço flectido levando telemóvel ao ouvido, passeia-se pela sala, vem até à varanda e recolhe-se. Ritual permitido e repetido. Ela passa de novo, mas desaparece repentinamente.
Ele também... antes de surgir novamente, com t-shirt branca vestida, acomoda-se no sofá, apodera-se do controlo remoto e ataca as teclas em zapping desinteressado. De vez em quando, a sua mão queda-se por sobre os genitais e acaricia-os.
Ela vem. Com a mão, afasta o cabelo para trás, descobrindo parte do rosto. Senta-se ao lado dele.
Ele permanece na posição original. Não discutem. Mas parece haver uma explicação dada. Como se algo estivesse a ser colocado em pratos limpos. Ela poisa a sua mão por cima da perna dele.
Ele coça os tomates.
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