É-lhe servido para jantar a rocha que anda cravada no seu peito há muito tempo. Nela se refugia e se esconde, tapando os olhos com a mão quando a luz inicia a batalha contra a escuridão.
No prato, para além da rocha, há um punhado de salada com umas folhas de alface, umas raspas de cenoura e uma tiras de repolho (ou couve branca, lombarda... o raio!) e uma batata assada.
A mesa comprida mas completamente vazia de adereços espreguiça-se até à fenda por onde o ar se exercita ao entrar sendo rapidamente consumido e raramente renovado.
O cheiro a cerejas adocica gentilmente o aparador onde também se ergue uma vela que derrama cera enquanto se esvai numa chama desmaiada.
Não há vinho na adega e talvez também não haja adega nenhuma. Ele levanta-se para averiguar. Caminha com o tacto da palma das mãos a reconhecerem as paredes e quando por fim sente a maçaneta de uma porta, volta atrás para pegar na vela e ao virar-se novamente, a desmaiada chama morre finalmente.
Ele suspira um foda-se com uma falta de entusiasmo demasiado grande para tão enfático palavrão. Às cegas consegue reencontrar o seu lugar à mesa, confunde a batata com a rocha que lhe foi servida e fica com a ligeira sensação de ter partido um dente.
A única janela que existe está arrematadamente escondida por detrás de caixotes cujos conteúdos são melhor deixados por desvendar.
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