OOP EXPERIENCES

20100901

d|e

Quando cheguei ao aeroporto, havia uma mancha branca à minha espera.

V. trazia uma camisa branca de manga curta, vestia umas calças brancas e, nos pés, o calçado era branco.

Cumprimentamo-nos depois de muito tempo sem nos vermos. O meu olhar evita o direccionar directo para aquela brancura toda e penso:

- Mas quem raio é que se veste completamente de branco hoje em dia?

E lá fomos para o nosso destino. Primeiro o parque de estacionamento, depois... a auto-estrada. A conversa faz um zapping entre histórias do passado, situações do presente e possibilidades do futuro. Temos um destino fixo.

A viagem demora cerca de duas horas e, já o dia anoitecido, quando nos aproximamos de Ourém, V. pára o andamento do carro e exclama:

- Pedrito! Eu não posso ir assim para o funeral do Palhacito! Estou todo vestido de branco!...

E, de repente, bate-me a mesma constatação.

Quando o vira o aeroporto apenas me incomodou o facto de ele estar todo de branco. Mais nada. Foi apenas aquando da sua exclamação que me apercebi que a brancura da sua indumentária era estranha para além da sua estranheza per si... Juntos, íamos ao funeral de uma pessoa que nos era muito especial.

- Trazes mais roupa no carro? (perguntei eu, ainda apanhado de surpresa pelo ridículo da situação)

- Sim.

E quando ele responde, abre também a porta do carro que tinha sido estacionado na berma de uma estrada, junto a uma moradia em ruínas.

A primeira coisa que fizemos foi mijar contra a parede. Depois, V. foi até ao porta bagagem e retirou de lá uma mochila.

Sem mais nada a declarar, V. começa a despir-se até ficar de boxers... brancos... na berma da estrada.

- Vou aproveitar para mudar tudo. (diz ele, despindo os boxers)

E, na berma da estrada, lá se vai vestindo ele.

- Só não tenho é mais nada para calçar... tenho aqui uns sapatos mas ficam-me apertados.

Nesta altura, quando olho para os ténis brancos que ele trazia desde o aeroporto, reparo que não são completamente brancos. Têm estampado em contornos vermelhos a palavra não muito apropriada: DIE.

Menos apropriado ainda foi o meu comentário, à despedida da mãe do Palhacito, no dia seguinte:

- Ele agora é que está onde merece!





Dois anos depois, começo a fazer pazes com o disparate da sua partida.

2 comments:

Ela said...

e eu que te ouvi contar isto, envergonhado... grande apoio, o meu.

Anonymous said...

Eu uma vez fui ao velório do pai de um colega da escola. Aproximei-me da recente viúva e sai-me com um "Então, como é que está?".
Caiu-me tudo logo a seguir...